sábado, 13 de dezembro de 2008

Aparência

O céu está carregado
E a chuva flui como um rio.
Sinto-me assustado
Com este tempo sombrio.
Sinto um vulto atrás de mim,
Negro, coberto por uma capa,
Um rosto impenetrável e ruim
Através da neblina que o tapa.
Eu, imóvel, quieto,
Espero algum acontecimento.
Contudo, parece-me certo
Que me caias no esquecimento.
A tua silhueta é feia, sem beleza.
Ao pé de tal monstro sinto-me belo.
Mas não sinto dó nem avareza
Neste julgamento que revelo...

Mas eis então que levantas a cabeça
E me olhas sem anúncio de medo.
Vais assegurar-te que eu conheça
Um pouco do teu segredo.
Puxas para trás o capuz
E mostras a tua face:
Eis que onde só chovia agora raia luz!
Esperas que um momento passe...
...No teu rosto agora a chuva se espalha
E o Sol nela cria um claro reflexo.
Vejo agora o seu desenho, sem falha,
E torno-me perplexo.
Agora sinto em mim o monstro e em ti a bela,
Sinto-me a chuva, quando me precipito,
E urjo como ela,
Assim a julgar, aflito...

Não existe uma segunda oportunidade
Para uma primeira impressão,
Mas nem sempre a primeira verdade
É a que nos traz a razão.
Ela só nos dá a liberdade
De criarmos uma ilusão...


13/12/2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Murmúrio intelectual

Quis aprender uma lição
E explorei a minha inteligência,
Fui ao mais profundo da minha razão
E procurei com muita paciência.
“É fácil”, enganado presumi eu.
“Basta que outro te ensine como se faz!”
Mas que estúpido! Que erro o meu,
Julgar que assim seria capaz!
É verdade que já é muito saber fazer,
Mas é preciso mais, íntima sapiência,
É preciso sentir na pele, compreender,
Para possuir esse pedaço de inteligência.
Os outros podem ajudar, sim,
Mas sou eu que tenho de pensar e filosofar.
Só gastando tempo, só assim,
Chega a minha compreensão a algum lugar…

Perdeste-te na penumbra do teu ser?
Outra vez, filosofar.
Não sabes o que fazer?
Voltar atrás, divagar…

19/11/2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Queixinhas

-Senhor Doutor,
Tenho aqui uma dor!
-Então? Conte-me lá…
-Dê-me um remédio! Já!
-Bem, vamos lá ver o que se passa,
Que essa berraria já está a perder a graça…
...Sente estas cócegas no pé?
-Ai Dr., é grave, não é?
-E esta martelada na perna?
-Ai Dr., já vejo luz no fundo da caverna!
-Vou palpar-lhe a barriga.
-Ai Dr., eu até sinto a lombriga!
-E dói-lhe a cabeça?
-Muito, Dr.! E não é nada que eu mereça!
-Que assim seja...
E o que deseja?
-Dê-me um atestado!
Já viu o meu triste estado?!
-Já, sim…então e vinho?
-Ah! Só um bocadinho…
-Pois…e a dieta, é equilibrada?
Ou não passa sem comer nada?
-Ah! Um prego no pão
É almoço, dia sim, dia não…
-E exercício?
-Ai Dr.! Que sacrifício!...

-Olhe, vá mas é daqui para fora!
Desapareça! Vá-se embora,
Que essa sua cantiga
Não é nada minha amiga!
Deixe-se de tretas e vá à sua rotina
Que eu estou aqui para praticar Medicina!
E não leva remédios nem poções,
Porque você é uma de duas opções:
Ou é um grande mentiroso,
Ou um hipocondríaco muito nervoso!
Vá mas é para outro lugar,
Onde alguém o possa aturar,
E dê-se por contente,
Que você está tudo, menos doente!


05/11/2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Na faca

“Mestre, ‘tás na faca!”,
Dizes tu e com razão.
“Há uma lâmina que te ataca.”
Sim, estranha sensação.
Pois, é verdade…
Maldito este fado,
Trouxe-me para aqui sem piedade,
Sem aviso, desequilibrado.
Não sei como até aqui vim
(Suponho que por causa de mim).
Estou bem no cume,
Bem no gume!

Devo cair para um lado
(E estar em cima da faca dói),
Mas em qualquer um fico desamparado
(E a lâmina pouco a pouco me corrói).
Devo escolher uma solução
E seguir em frente,
Saltar do fio para o chão,
De cabeça erguida, resolutamente!
O problema é saber para onde tender,
Decidir o que fazer, inequivocamente.
Mas cada dia me sinto enfraquecer,
E assim continuo equilibrado, pendente…

Sondo a minha razão
E ela não me consola.
Sondo então o coração
E ele ainda mais me desola.
Na faca continuo no fio
E pergunto então ao vazio…
…”Que seja o que aconteça,
Atira-te de cabeça!”…
Não me diz para desistir,
Mas também não me dá nada bonito.
E é então que me decido, deixo-me ir…
Fecho os olhos, respiro…E caio no infinito…


21/08/2008

sábado, 5 de julho de 2008

Férias

(este agregado de versos foi colocado aqui meramente com o objectivo de "moralizar as hostes")


Sento-me (na secretária) a estudar
E inclino para baixo a cabeça.
Tenho de ler, marrar e trabalhar
Para que no exame de nada me esqueça.
É sem dúvida grande o trabalho,
Sem dúvida que custa a preparação,
Mas tenho de demonstrar o que valho
No momento da próxima avaliação.

Sento-me (no parapeito) a observar
E inclino para fora a cabeça.
Sonho com férias noutro lugar,
À espera que o Sol apareça.
É sem dúvida grande a esperança,
Sem dúvida que tudo o que desejo
É nada mais que a mudança
De tudo o que agora vejo.

Sento-me (na praia) à beira-mar
E inclino para tás a cabeça.
Inalo aquele Sol e aquele ar
À espera que nada aconteça.
Foi sem dúvida um ano cansado
(Sem dúvida que o estudo é duro),
Mas cheguei ao meu desejado fado,
Cheguei ao meu desejado futuro.

Agora que paro a cabeça
E tenho perante mim todo o mar,
Sei que não há nada que me aborreça,
Sei que não há mais perfeito lugar.


05/07/2008

domingo, 22 de junho de 2008

Corrazão

O meu intelecto é um ser cheio,
Mas partido em dois, desfeito.
Uma parte está na cabeça e é seu recheio,
A outra inclina para a esquerda no centro do peito.
A cada história, cada problema,
Ele faz-me o negro favor
De o bifurcar num dilema,
De duplicar o terror.
Cada uma das partes luta pela supremacia,
Quer mandar no meu ser,
Batalha contra a outra pela hegemonia,
Quando a verdade é que nenhuma deve vencer.
Bem sei que essa luta entre cada componente
É uma das constantes da vida,
É uma situação permanente,
Uma luta nunca ganha nem perdida.
Uma diz uma coisa
E outra outra coisa diz
E, por muito que oiça,
No fim nunca nenhuma explica o que fiz.

Enfim…
Não sei a que dar atenção,
Se à razão do coração
Ou se ao coração da razão.
É a minha maldição…


22/06/2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Ausência

É verdade,
Não tenho tido vontade
E não tenho escrito,
Tenho dito!
Já há muito que não escrevo,
Mas não lhe dêem relevo
Que, lá por não ter escrito,
Não deixei de ser erudito!
Simplesmente não me apeteceu,
Não aconteceu,
Às vezes é assim,
Só porque sim.
Não peço desculpa
Porque em nada vejo culpa.
Só não quis e não refilaram,
Não fiz e não apreciaram.

O que estou a ver
É que já estou para aqui a escrever
E estou a queixar-me tanto
Que é melhor acabar com este pranto.
Por isso despeço-me com este pretexto:
Adeus e até um próximo texto!


09/06/2008

sábado, 31 de maio de 2008

Matemática!

-Derivadas parciais!
Conjunto dos naturais!
Somatório do integral!
Derivada da exponêncial!
Espaço conexo!
Envelope convexo!
Número irracional!
π! Razão diferencial!
Gráfico semi-logarítmico!
Semi-eixo elíptico!
Formas-n!
Curva de nível em RN!
e é número imaginário!
Teorema dos Resíduos não vem no dicionário!
Teorema de Heine-Cantor!
É com cada pontada de dor!...
Será que alguém me explica
O que isto significa?

-Vá…não sejas mendigo
E ouve o que te digo:
Se queres ser esperto
E ver estas coisas bem de perto,
Então vai para o IST
Que lá é que se vê
Permanentemente
Aquela gente
Com óculos em fundo de garrafa.
Ali ninguém se safa!
Todos cantam este poema
De trás para a frente, sem problema!
Depois ainda te fazem toda a demonstração
Mesmo que digas "não!".

E no fim perguntas então:
“Para que serve toda esta coisa tão complicada?”
É a única coisa que sabes, e eles não:
Para nada!


31/05/2008

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Estacionado

Em casa sozinho
Num dia de feriado…
Cheguei ao fim do caminho.
Finalmente, posso dormir descansado…

Chego à casa onde moro
E não tenho nada para fazer.
“Nada para fazer”…adoro…
Ou então fazer o que me apetecer…
Vou deitar até derreter,
Até ficar em molho,
Dormir até esquecer,
Nunca abrir um olho…
Sorrio de alegria
Porque acabou a estrada.
Finalmente chegou o dia
Em que não tenho de fazer nada…

Entro no quarto, fecho a porta…
Fico eternamente parado, deitado, estacionado…
Pouco me importa…
É feriado…


30/05/2008

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Desculpa

(dedicado a Alexandra Brazão)


Eu não resistia à tentação
E com aquela música te chateava.
Então sugeriste uma nova canção,
Porque a outra já agoniava.

A princípio decidi concordar.
Pareceu-me bem, tal acção.
Era altura de mudar de música, mudar de ar,
Era altura de mudar de feição.

Fui para casa e comecei o treino,
Mas a música era complicada
(Ou então a voz não é o meu reino).
Percebi que não me levava a nada.

Aí foste condescendente
E disseste: “Então tenta outra qualquer!”.
Eu anuí, lentamente:
“Aquilo que a senhora quiser”.

No dia seguinte acordei revoltado.
“Desta vez não vou tentar! Vou conseguir!”
Mal sabia eu do triste resultado
Que ainda estava para vir…

Apressei-me para o lugar,
À espera que viesses.
Mas tu tinhas decidido não voltar,
Tinhas decidido não ouvir as minhas preces.

Infelizmente, eu não sabia,
E quem sabia não me avisou.
Então estreei a cantoria,
Mas sem ti foi mal que soou.

Acabaste por não aparecer,
E eu estreei-me sem a tua presença.
Então falhei, mas sem perceber
Que isso me declarava uma sentença.

Não fiques mais ofendida.
Não me espetes o coração.
Dá-me só mais uma tentativa
Para recuperar a tua atenção!

Desculpa-me, bela dama,
Por tal acto de terror.
Prometo que não apago a chama,
Que contigo cantarei com o dobro do ardor!


P.S.:
Ainda tentei rimar com Elvis
Para ver se ficava elegante,
Mas só me lembrava de “pélvis”
E isso até era indignificante!


29/05/2008

Napoleão

Sou um ser superior
A toda a gente no meu estado.
Sou um ser vencedor,
Nunca antes derrotado.
Todos os meus detalhes são perfeitos.
Senhor de muitas histórias,
Senhor de inúmeros feitos,
Senhor de infinitas vitórias.
Vitorioso em todas as batalhas,
No meu sangue corre a plenitude
De um ser sem falhas,
De um ser repleto de virtude.
Não possuo inimigos
Porque, um a um, o meu espírito os derrotou.
Estou antes repleto de amigos
Que bem sabem como sou.

Contudo, sou modesto.
Não pedi para ser assim.
Mas enfim, sou superior ao resto,
Ou o resto é inferior a mim…
Não quero riqueza de milionário
Nem fama de estrela de cinema.
Não quero ser palavra nova no dicionário,
Nem tema de outro poema.

Simplesmente sou realista.
Sei que sou assim, grandioso.
Não sou grande idealista.
Sou, simplesmente, vitorioso.
Também não busco a glória,
Mas nunca admito um empate!
Quero sempre a vitória!
Touché! Xeque-mate!


29/05/2008

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Wow...

Olha esta giraça
Que por mim passa…
Quem é ela, tão singela?
Ai não sei. Mas que bela
Forma que tem…
É que não há quem!
Mas que manancial de beleza!
Material de princesa
Que por mim passa,
Esta giraça!

O mais curioso de tudo
É que me deixa mudo
Sem eu perceber porquê.
Quem na rua a vê
Dificilmente repara
Naquela linda cara
Por ser tão discreta.
Mas, não sei, em mim desperta
Os sentidos, por onde quer que passe.
Será a sua face?
Isso é certamente.
Mas é mais, mesmo que não tente.
É a sua natureza,
Toda aquela beleza,
Tão natural,
Tão sem igual.
À minha volta parecem não compreender
O que eu estou a ver:
Naquelas mãos a beldade,
No cabelo a igualdade
Da forma e da cor
E na roupa o amor
Pela harmonia.
Esta visão dá-me uma alegria…
Continuo mudo,
Mas isso já não é o mais curioso de tudo…

Espera! Não vás!
Já viste que bem que estás?
Quero dizer-te isso,
Não vês que estou submisso?

Olha, já se foi embora
E nada lhe disse. E agora?
Que tristeza…
Quem me vai acreditar naquela beleza?
Bem, agora terei de me contentar
Com aquilo de que me lembrar.
Ficarei com a bela nostalgia
E a esperança de a ver noutro dia…


26/05/2008

domingo, 25 de maio de 2008

Música!

Canta e toca, homem do piano!
Anima as almas e as gentes!
Mostra, toca o teu plano!
Deixa as pessoas contentes!
Espalha a tua magia,
Espalha a felicidade!
A música é a tua via
Para nos tirar metade da idade!
Faz-nos rejuvenescer!
Põe-nos as hormonas aos saltos!
Vamos! Faz-nos enriquecer!
Toca dó, ré, mi, todos bem altos!
Faz tua esta festa,
Que seja tua a sessão solene!
Vamos! É desta!
Dá-lhe aí piano man!


25/05/2008

sábado, 24 de maio de 2008

Melancolia

Bebo um trago de uma aguardente
Para esquecer o que se passou.
Quero aniquilar a minha mente,
Apagar tudo aquilo que sou.
Sou daqueles que tudo perdeu
E que não se importou com isso.
Só até ver que fiquei só eu,
E aí da tristeza fui submisso.

Agora vagueio perdido pela rua.
Olho o céu, vejo a nuvem da poluição.
Não é nele que encontro o branco da Lua,
Encontro só o negro no meu coração.
Os outros olham para mim, cambaleante.
Não conheço nenhuma das suas faces.
Neles vejo só um ar crítico, arrogante.
“Que queres tu com essa cara? Não me maces!”
Ainda cambaleio pela rua, perdido,
Ignorando essa cambada de palhaços,
Sempre com saudade do que já foi vivido,
Despedaçando o meu coração em pedaços.

Dessa aguardente bebo outro trago
Para ver o quanto mais me estrago.
O que desejo mesmo é fugir.
Não consigo. Resta-me cair…


24/05/2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Dormir

Tenho sono!
Quero dormir!
E sim, ressono!
Por isso vão ter de me ouvir!
Fico eufórico quando trabalho
E preciso de ficar manso.
E se não durmo todo me baralho,
Por isso, preciso de descanso.
Apetece-me descansar,
Ter paz, serenidade,
Partir para um lugar
Onde reine a tranquilidade…

Ai que bom é ficar deitado
Neste vale de lençóis e cobertores,
Recompor-me depois de cansado
E curar todas as dores.
Que bom é poder sonhar,
Que bom é fazê-lo todos os dias,
Mergulhar neste imenso mar
De imensas fantasias.
Que bom é cair neste sono
E aqui ficar eternamente.
Sim, ainda ressono,
Mas agora é de contente…

Acorda-me o despertador
E com dificuldade me levanto.
O Sol entra no quarto, mas sem sabor.
Apetecia-me dormir outro tanto.
Diz-me a luz do novo dia
Que vou ser novamente empregado.
Mas não! Quero magia!
Quero que seja feriado!
Ainda tenho sono,
Não descansei a minha mente.
Quero ver outra vez se ressono,
Quero dormir novamente…


23/05/2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Ode do convencido

(dedicado a mim)

Tu, tu e só tu, és o maior.
És tu objecto da minha veneração.
Conheço teu corpo todo de cor,
Admiro teu espírito e tua razão.
Possuidor de infindável beleza,
Tens o universo a teus pés.
Senhor de nenhuma fraqueza
És só tu, sabes que o és.
Um poço sem fundo de inteligência,
Uma alma indomável, sempre consciente.
És tu uma superpotência,
És tu um ser omnipotente.
Tu, sempre tu, um ser superior,
Célula a célula, órgão a órgão,
És tu coração repleto de ardor,
És tu mente repleta de razão,
És tu o próximo passo na evolução.

E não, não és convencido.
Só o eras até ser mesmo bom.
Pena é que bom já tenhas nascido,
Pena é que convencido não seja o teu tom.

Em suma, és um borracho,
És único, tudo o que há de belo.
E sim, é mesmo isso que acho,
E sim, é mesmo isso que revelo.


22/05/2008

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Voltar atrás

Prometeste que não mudava nada,
Prometeste que ficava tudo bem.
Prometi essa mesma coisa tão esperançada,
Prometi isso mesmo também.

A verdade é que ambos somos ingénuos, ignorantes,
A verdade é que confundimos desejo e sabedoria.
Era óbvio que nada seria como dantes,
Era óbvio que algo mudaria.

Agora estou confuso, perplexo,
Agora preciso de falar contigo, a sós.
Vou tentar encontrar em ti um sentido, um nexo,
Vou tentar perceber em que ponto estamos nós.

O problema é que agora não há comunicação,
O problema é que me sinto uma doença.
Sinto que me sentes como invasão,
Sinto que já não gostas da minha presença.

Por favor, aceita-me de volta,
Por favor, tira-me deste estado.
Faz o tempo dar uma reviravolta,
Faz o tempo voltar ao passado.

Quero que vejas como já não vês,
Quero que tudo seja o que já foi uma vez…



19/05/2008

domingo, 18 de maio de 2008

“O mundo pertence a quem se atreve”

Toda a semana tinham os Deuses estado contra mim.
Todos dias não, nenhum dia sim.
Mal saí à rua e contra mim começaram a chuva e o vento.
(Mal sabia eu que o dia se tornaria solarento…)
Ainda assim nunca desisti.
Cheguei a casa, mudei de roupa, corri,
No carro agarrei,
Arranquei.
E fui ter contigo, a sós…

O tempo tornou-se infinito,
Com aquele trânsito na rua, aflito.
O meu medo era o meu sofrimento.
Todo aquele nervosismo, um tormento.
Mas, curiosamente, a tua presença
Declarou uma sentença
A tudo isso. A tua companhia
Transformou a noite em dia
E os Deuses mudaram de feição,
Mudaram a situação.
Ainda assim continuou meu medo.
Eu sabia que te ia revelar o segredo
No fim daquela jornada,
Quando já não restasse nada.

Esse momento finalmente chegou
E aí sim, o tempo parou.
Mas, não percebi, o nervosismo não veio.
Que tinha sido aquele receio?

Olhei para a tua face e por dentro sorri
Porque a verdade percebi.
Percebi que os Deuses nada tinham a ver com isto.
Ali éramos só tu e eu, que nada mais existe.
Julgava que serias a minha perdição
Mas, afinal, foste a minha salvação.

E foi então que me decidi.
E tentei, fiz, aconteci…
Porque o mundo não é de quem deve.
“O mundo pertence a quem se atreve”


18/05/2008

sábado, 17 de maio de 2008

Invulnerável (ou não…)

Não vou morrer!
A morte é execrável.
Invulnerável,
Vou sempre viver.

Para sempre em Terra,
Para sempre em presente.
Omnipotente,
A minha vida não encerra…

Não quero morrer!
É um destino horroroso.
Esperançoso,
Quero sempre viver.

Para sempre com esperança,
Mas para sempre ciente.
Consciente,
Tenho a vida na ponta da lança…

Afinal vou morrer!
A morte é inevitável.
Vulnerável,
Vou mesmo perecer.

Merda! Vou morrer!...


17/05/2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

Lá no alto do Olimpo
Os Deuses sabem o que sinto.
Mas, pelo que vejo,
Ignoram meu mais profundo desejo.
Quero aquele acontecimento,
Num só momento
Quero que os Deuses estejam a meu favor,
Que não olhem, não evitem, que seja o que for!
Só não quero um travão,
Do resto trata a minha mão.

Julgo que sou forte,
Planeio, não preciso da Sorte.

Mas há coisas que me fogem ao controlo,
Que me tiram o consolo.
Com isso vivo bem
A vida normal de alguém
Que é realista,
Que crê no que lhe chega à vista.

Mas agora preciso de mais,
Preciso que a conjuntura das demais
Coisas da vida seja propícia ao meu desejo,
Ao meu ensejo!
Quero chegar, ver e vencer!
Tratar do assunto como deve ser!
Pela minha mão,
Com a minha razão!
Depois pode vir o azar
E tudo o que ele acarretar.
Vivo bem a minha vida
Desde que tenha a missão cumprida…

Mas, por favor, preciso daquele momento,
Não posso desperdiçar o meu alento.
Aí no Olimpo,
Sintam o que eu sinto
E dêem-me a oportunidade,
Façam-me a vontade…
Por favor Zeus,
Por favor Deus,
Por favor, só por um dia,
Por favor, um pouco de magia…


13/05/2008

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Pxiu...

Vou contar-te um segredo.
Mas não contes a ninguém,
Isto que outro me contou
De alguém que lhe segredou
Este segredo de outrém.
Anda cá, não tenhas medo.

A minha boca nunca se abriu,
Sabes que em mim se pode confiar.
Mas se isto se vier a descobrir,
Não fui eu certamente a descair,
Não fui eu certamente a contar,
Por isso, pxiu…

E agora que o segredo contei,
Não vais dizer a ninguém, pois não?
É que se por ventura ele sabe,
Talvez sua fúria não acabe,
E depois é grande a confusão,
E eu vou dizer que nada sei.


09/05/2008

Aula de Biologia.

Aula de Biologia.
Mas que bela duma seca!
Apetece-me desaparecer, por magia,
Mas tenho de chegar ao fim, à meta.
O professor pensa que é o maior,
Mas não ensina nada.
Sabe a matéria toda de cor,
Mas a audiência fica especada.
Fala do ciclo celular
E eu abano a cabeça, a anuir.
Ele devia era calar
E eu devia era dormir.


09/05/2007

terça-feira, 6 de maio de 2008

Omnipotente

Eu sou o zero e o infinito.
Digo e repito:
Sou o zero e o infinito.

Sou o tempo e o espaço
E o Universo que persiste.
Tudo o que sou, tudo o que faço,
Acredita que é tudo o que existe.
Sou o zero e o infinito.

Sou a tua luz e a tua escuridão,
Sou o teu início e o teu fim,
Sou o teu sentimento e a tua razão,
Sou a tua vida, não vives sem mim.
Sou o que queres, o que desejas,
Sou o que amas, o que odeias,
Sou o que tens, o que almejas,
Acredita: sou tu e o que te rodeia.
Sou o zero e o infinito.

Nada tu fazes,
Nada tu consegues,
Nada tu persegues,
Tudo eu te faço,
Tudo eu te consigo,
Tudo eu te persigo,
Tudo está em mim.
Acredita que é assim:
Sou o zero e o infinito.

Eu sou Deus.
Acredita no que te tenho dito:
Sou o zero e o infinito.


06/05/2008

quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Beijo

Vejo-te caminhar na rua
E a verdade nua e crua
Depressa me sobe à cabeça:
"É hoje! Que assim aconteça."

O dia corre normalmente.
Isso em ti. A minha mente
Grita paixão por teu sorriso,
Aquele que tanto preciso.

Já chegou o final do dia.
Sou só na tua companhia.
É agora.
É a hora.

Domino-me então, selvagem,
Respiro toda a coragem,
Ponho as mãos na tua face,
Respiro, sem que o tempo passe.

Olho bem para ti, a medo.
Os meus olhos contam o segredo
Que a minha boca quer dizer
E a tua alma quer saber.

Olho-te de frente nos olhos
E já não vejo mais escolhos.
É agora.
É a hora.

Agora já não tenho freio.
Mas é ainda com receio
Que te pergunto mesmo assim:
"Será que confias em mim?"

Agora és tu com o meu medo.
Contam teus olhos o segredo.
E eu continuo reticente.
É agora. Segue em frente.

Todo o meu coração palpita,
Todo o meu corpo se agita.
Quero e estou a ser forte.
Agora preciso da sorte.

Avanço lentamente.
Liberto a minha mente.
E que seja o que for...
Faço-o por amor...


30/04/2008

terça-feira, 29 de abril de 2008

Explicação

Dou uma explicação.
Não consigo perceber
O porquê dele não entender
E entro na exaustão.

O que quero ensinar
É a Física, é a Matemática
Mas ele teima em não ter a prática
E continua sem estudar.

Ele não sobe a nota.
Não sabe que saio frustrado
Com o seu triste resultado.
Será minha a derrota?

Enfim...
Não desistir é o importante.
Espero que entre na universidade
Quando tiver a certa idade.
Para tal é que me esforço bastante...


29/04/2008

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Estudante de Medicina

(dedicado a Ana Catarina da Silva Faria)


Escolhi Medicina
E parece que a minha sina
É estudar e saber.
Dizem que "é duro, mas tem de ser".

Uns é um sonho que seguem,
Outros parece que perseguem
Um futuro feliz e rico.
Mas e eu, onde fico?

É anatomia! É bioquímica!
Nas orais é a mímica
Que me deixa descontrolada.
Estou a ser usada
Por esta máquina de educação
Que me deixa na confusão,
Só porque tenho de estudar, marrar,
Não parar, cansar, desesperar, sangrar!
Estou na penúria!
Fenilcetonúria!
Hemidesmossoma
E o outro lisossoma!
Só complicação, este verso!
Mesocólon transverso!
Fígado vascularizado!
Crânio fracturado!
Chega! Não posso mais!
Discos intervertebrais!
Onde é que isto acaba?
Será que acaba?!
Trompas de Falópio!
Em biologia o microscópio
Para ver a vesícula de transporte
E em estatística fazer o coorte
Dum estudo longitudinal!
É pior que comida sem sal!
Eu peço pouco
Mas dizem que o seio frontal é oco!
Só quero o meu descanso típico
E dão-me o ciclo do ácido cítrico!
E quando parece estar quase
Enfiam-me a RNA Polimerase!
Não quero história!
Para quê a memória
De uma outra humanidade
E respectiva enfermidade?!
Só quero é ser feliz,
Não que me falem do ângulo de His!
O que peço é calma
E paz à minha alma...

Ai...
Estou mesmo perdida.
Que vai ser da minha vida?
Que posso eu fazer?
Nada, estudo porque tem de ser.
Resigno-me a esta tristeza
E procuro uma fuga, uma gentileza
Que me estenda a mão
E compreenda a minha razão...

Felizmente apareces tu e a tua conversa
Todas as vezes dispersa.
Mas nem tu és capaz
De me tornar o espírito vivaz
Quando olho para ti
E pergunto à tua cara que se sempre ri:
"Como sou eu contente
No meio desta gente?"
Tu respondes: "Não sei, relaxa, descontrai,
Vai para casa, senta-te, deita-te, cai..."


28/04/2008

sábado, 26 de abril de 2008

Penso em ti (em mim)

Levantado lá no monte
Recebi o vento pela fronte
E pensei em ti.

Não sei o que pensar,
Se amor, se saudade,
Mas o monte dá-me a liberdade
De continuar a pensar,
A pensar em ti.

Não sei quando vou embora,
Nem sei se é em ti que penso.
Mas não perco pela demora
De saber o que me é propenso.
E aí, pensarei em ti?

O que quero é saber que sei
E pensar que pensei,
E então crer no poeta que diz
"Sei a verdade e sou feliz".


26/04/2008