sábado, 13 de dezembro de 2008

Aparência

O céu está carregado
E a chuva flui como um rio.
Sinto-me assustado
Com este tempo sombrio.
Sinto um vulto atrás de mim,
Negro, coberto por uma capa,
Um rosto impenetrável e ruim
Através da neblina que o tapa.
Eu, imóvel, quieto,
Espero algum acontecimento.
Contudo, parece-me certo
Que me caias no esquecimento.
A tua silhueta é feia, sem beleza.
Ao pé de tal monstro sinto-me belo.
Mas não sinto dó nem avareza
Neste julgamento que revelo...

Mas eis então que levantas a cabeça
E me olhas sem anúncio de medo.
Vais assegurar-te que eu conheça
Um pouco do teu segredo.
Puxas para trás o capuz
E mostras a tua face:
Eis que onde só chovia agora raia luz!
Esperas que um momento passe...
...No teu rosto agora a chuva se espalha
E o Sol nela cria um claro reflexo.
Vejo agora o seu desenho, sem falha,
E torno-me perplexo.
Agora sinto em mim o monstro e em ti a bela,
Sinto-me a chuva, quando me precipito,
E urjo como ela,
Assim a julgar, aflito...

Não existe uma segunda oportunidade
Para uma primeira impressão,
Mas nem sempre a primeira verdade
É a que nos traz a razão.
Ela só nos dá a liberdade
De criarmos uma ilusão...


13/12/2008

Sem comentários: